6:00 - despertador toca. Chamo nomes ao mundo e arrasto-me para a casa de banho.
7:00 - na posse de um livro e dois iogurtes líquidos, chego ao Rockefeller Center (vulgo: estúdios da NBC). Cerca de trinta pessoas já fazem fila na rua 49.
7:02 – engano-me e coloco-me no início da fila. Menino que está em primeiro lugar não gosta. Esta vossa anfitriã corre risco de vida.
7:24 – um americano que mora na República Checa mete conversa comigo. Estranha o Conan O´Brien ter fãs em Portugal.
7:26 – cito uma frase do Team América. Ao que parece, é o filme preferido do americano-que-mora-na-república-checa. Faço um amigo para a vida. Bom, pelo menos até a namorada dele aparecer.
7:47 – recebo um telefonema de Lisboa. Sou olhada como uma extraterrestre quando começo a falar português. A verdade é que aquela malta também não tinha muito com que se entreter.
7:55 – já somos pelo menos sete pessoas na fila em amena cavaqueira uns com os outros. Muito curte esta malta meter conversa!
9:04 – uma jovem loira, que claramente odeia o seu trabalho, grita instruções e distribui os stand by tickets para o Late Night With Conan o´Brien. Calha-me o número 38. Reza a lenda que até ao 45 ainda há hipóteses. Mandam-nos voltar às 15:30. Tenho, portanto, de me baldar às aulas. Resolvo ir para o MOMA fazer tempo.
9:11 – é terça-feira, o MOMA está fechado.
10:32 – Depois de muito tempo às voltas sem destino, dou de caras com umas filmagens. Fico ali a fazer tempo, especada a olhar para o John Travolta e o Robin Williams.
10:45 – Depois da décima quinta mexicana guinchar por causa do Travolta, resolvo ir embora.
11:37 – Depois de mais tempo às voltas, resolvo que o melhor é ir antes para o cinema.
12:02 – Chego ao cinema. Não há assim nada que me apeteça particularmente ver. Decido-me pelo Ratatouile. A porcaria da sessão só começa às 13h10. O cheiro a pipocas com queijo dá-me a volta à barriga.
12:11 – Descubro que a sala para a minha sessão já está aberta. Resolvo passar pelas brasas só durante cinco minutinhos.
13:07 – Acordo com o som do meu próprio ressonar e uma criança de seis anos especada a olhar para mim. Eu estou deitada, ocupando três cadeiras do cinema (é aqui que fico muito grata pelos traseiros gigantescos de alguns americanos: os braços das cadeiras têm de ser reclináveis porque há malta que ocupa mais do que um lugar).
15:15 – Filme acaba, tenho de correr para a NBC.
15:30 – Vou para uma fila. Faço check in do meu número de espera. Tenho de aguardar pelas 16h15.
16h15 – Vou para outra fila. Eventualmente mandam as pessoas com bilhetes com números superiores a 61 embora.
16h20 – Chamam apenas as pessoas com bilhetes inferiores a 50.
16h22 – Mais uma fila.
16h40 – Mandam bazar quem tem bilhetes com o número 39 para cima. Agarro com muita força no meu bilhete 38.
16h45 – Mais outra fila. Desta vez, as pessoas vão entrando para o estúdio. Já vejo o cenário!
16h50 – A gaja loira que odeia o seu emprego diz que já têm gente que chegue e correm connosco. Faltavam cerca de dez pessoas para a minha vez.
16h51 – Decido que se me perguntarem porque não fui à escola vou responder “porque estive a ajudar os sem-abrigo”. A verdade é demasiado parva para eu a admitir.
De facto, disse isto dos sem-abrigo. Julguei eu que era claro que estava a brincar. Pelos vistos não. A indiana da minha turma acha agora que eu sou um anjo de pessoa.