Descobri que não faço puto de ideia do que é o amor entre um homem e uma mulher. Sei lá eu o que faz duas pessoas arriscarem numa relação, partilharem entranhas, nóias e copo das escovas de dentes. Sempre pensei que uma amizade fortíssima, com intimidade, cumplicidade, frases irritantemente completadas e vontade de genuína de contar tudo ou outro – do que se come ao pequeno-almoço até à última crise familiar – era um indicativo. Afinal não é. Cumplicidade, amor, o que é que as duas coisas têm a ver uma com a outra? Nicles. Bom, talvez juntando a este sentimento uma atracção forte, recíproca, completa, descomplexada. Onde fazer amor e foder é tudo a mesma coisa, tudo parte de uma mesma unidade que faz tão bem à alma como à acumulação de hormonas. Mas não, também não é isto. Também não é isto que faz duas pessoas “terem futuro” ou que provoca “a vontade de estar no quentinho a ter filhinhos”. Então, não sei o que é. Julgava que o que fazia duas pessoas resistirem ao peso dos anos e das rotinas era a amizade genuína e a atracção inabalável. Não são. Então, desisto. O último a sair que feche a porta. E quem ouse voltar a abri-la que me explique. Com desenhos, se faz favor, que será preciso todo um livro ilustrado para desfazer o nó que para aqui vai, que faz novelo do hemisfério esquerdo e das aortas e de todos os órgãos que se metam no caminho.
Não sei o que é duas pessoas amarem-se e imaginarem-se juntas. Descobri ontem que não sei. Descobri com um crack violento que ainda me faz os tímpanos chiar, sem me deixar pensar em mais nada. Mas fiquei com uma valente pista do que são os amigos. São o “vem cá ter a casa”, o “telefona quando quiseres que o telemóvel fica ligado”, o copo de vodka, o pratinho de queijo com marmelada, o saco de água quente. Obrigada. Quando este coração se recompuser, sei que me vou sentir grata da maneira que vocês merecem.