Porque faço parte dos 49,4 por cento que restam
Quando tinha uns oito anos, a minha tia passou-me um marcador da Mollin e disse "anda comigo, vamos fazer uma coisa gira". Dei por mim a, com a supervisão entusiasmada de um adulto, desenhar cornichos, dentes podres e olhos negros em cartazes de um senhor de cabelo muito bem penteado e sorriso rígido.
Quando tinha uns treze anos, toda a gente da minha turma usava ténis-bota da All Star. Os meus pais não me podiam comprar uns. Daí que quando na feira de Mem Martins apareceu uma imitação muito fiel ao original, chaguei o juízo à minha mãe até ela me oferecer os ténis. Tinham apenas um pequeno problema: eram cor-de-laranja. O meu pai passou-se: "filha minha não anda com nada dessa cor!". Não descansou enquanto não deitou as sapatilhas para o lixo. "Sabes, essa é a cor de um partido político que o teu pai não gosta nada", explicou-me como pode a minha mãe. Enfim, serviu ao menos para regatear uns All Star azuis dos verdadeiros.
Quando tinha nove anos conheci a minha avó paterna, com a qual não tinha contacto antes devido a trocas e baldrocas da minha família. Era a clássica avózinha doce, de cabelo armado pela laca, casaco de malha e dezenas de chocolates da Regina (dos de Laranja!) para me oferecer. Daí que tenha sido sempre muito estranho vê-la despejar litros de vernáculo ácido cada vez que aquele político aparece na televisão. Coisa que acontece até hoje. "Aquele c#$%&, filho de uma grande p#&#, se me aparecesse à frente matava-o", diz com os olhos a faíscar. Quando o noticiário prossegue para outras novas do país e do mundo, o Mr. Hyde da minha avó volta a ser o Dr. Jekyll. "Queres mais um bocadinho de pudim de pêssego, querida? É o teu preferido".
O meu pai está em Berlim a visitar a minha irmã. Ligou-me no Sábado, para dizer que a minha sobrinha está linda e que as ruas estão cheias de neve. E para deixar escapar como quem não quer a coisa "vê lá, amanhã vota bem". Ontem à noite mandei-lhe um SMS com os resultados. Não respondeu. Vamos lá a ver se ele não decide ficar pela Alemanha.
Quando tinha uns treze anos, toda a gente da minha turma usava ténis-bota da All Star. Os meus pais não me podiam comprar uns. Daí que quando na feira de Mem Martins apareceu uma imitação muito fiel ao original, chaguei o juízo à minha mãe até ela me oferecer os ténis. Tinham apenas um pequeno problema: eram cor-de-laranja. O meu pai passou-se: "filha minha não anda com nada dessa cor!". Não descansou enquanto não deitou as sapatilhas para o lixo. "Sabes, essa é a cor de um partido político que o teu pai não gosta nada", explicou-me como pode a minha mãe. Enfim, serviu ao menos para regatear uns All Star azuis dos verdadeiros.
Quando tinha nove anos conheci a minha avó paterna, com a qual não tinha contacto antes devido a trocas e baldrocas da minha família. Era a clássica avózinha doce, de cabelo armado pela laca, casaco de malha e dezenas de chocolates da Regina (dos de Laranja!) para me oferecer. Daí que tenha sido sempre muito estranho vê-la despejar litros de vernáculo ácido cada vez que aquele político aparece na televisão. Coisa que acontece até hoje. "Aquele c#$%&, filho de uma grande p#&#, se me aparecesse à frente matava-o", diz com os olhos a faíscar. Quando o noticiário prossegue para outras novas do país e do mundo, o Mr. Hyde da minha avó volta a ser o Dr. Jekyll. "Queres mais um bocadinho de pudim de pêssego, querida? É o teu preferido".
O meu pai está em Berlim a visitar a minha irmã. Ligou-me no Sábado, para dizer que a minha sobrinha está linda e que as ruas estão cheias de neve. E para deixar escapar como quem não quer a coisa "vê lá, amanhã vota bem". Ontem à noite mandei-lhe um SMS com os resultados. Não respondeu. Vamos lá a ver se ele não decide ficar pela Alemanha.
3 Comments:
tb estou incluida nesses 49.4%... e fico meio assustada com a opinião dos portugueses, expressa desta maneira ontem. O que é que se passa com esta gente? será que é só memória curta? ou são mesmo masoquistas?
Mas aquilo na Alemanha tá mais ou menos na mesma, não tá? E mal por mal, rumávamos antes a Sul...
Muito bom, meninas! Amei.
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