Transportes públicos ROCK!
Cenário: fim de tarde, autocarro 2 da Carris na direcção Bairro da Serafina. Velhotas de cabelo armado e casacos feitos em borboto empurram tudo e todos em busca de um lugar para si e para os seus quinze sacos de plástico a transbordar ninguém sabe do quê. Duas das velhotas encetam uma conversa de circunstância sobre os temas que mais amam: a vidinha, as dores e as doenças. Uma delas quase não tem voz, mas isso não impede as dignas idosas (cada uma sentada de um lado do autocaro) de conversarem. Mas, de facto, é difícil ouvir a senhora afónica:
- "Então já está assim há muito tempo?"
- "Então já está assim há muito tempo?"
- "Já há algumas semanitas, sim."
- "Pois, agora o tempo não ajuda porque está mesmo muito frio."
- "Muito, é Inverno. Muito frio."
- "Ai, isto de estar doente custa muito!"
- "Erm znherg ferg gnhuc."
- "Hã?"
- "Erm znherg ferg gnhuc."
- "Diga?"
A velhota de voz sumida bem se esforça, mas de facto era quase impossível ouvi-la, especialmente ao longe e num autocarro que solovanca ritmadamente. Depois de mais alguns "hã?" e "o quê?!", uma terceira velhota estrategicamente mais bem colocada resolve ajudar na conversa e reproduzir alto e bom som (aos berros, portanto) aquilo que a afónica dizia:
- "ESTÁ A DIZER QUE LHE CUSTA TANTO QUE PREFERIA MORRER, ATÉ PENSA EM SE MATAR. PENSA NISSO TODOS OS DIAS. EM MATAR-SE".
Fez-se silêncio entre as velhotas. E seguiram falando da novela. Parece que a Alexandra Lencastre faz de má e está muito magrinha.
4 Comments:
AHAHAHHAHAHAH
Perdoem-me a insensibilidade, mas a conversa é linda :D
Lol. Curiosamente, no dia seguinte todos os autocarros colocam bandeiras no topo, alertando para este potencial turístico. É o melhor cartão de visita do nosso país!
E hoje andar de bus é grátis!
Deve ser para compensar não se poder circular na zona de Belém, por causa da assinatura do Tratado...
Priceless.
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