Beautiful politics
Tenho a mais profunda convicção de que a América não existe. Existem, isso sim, as Américas, tão plurais que podiam ter fronteiras entre elas com direito a carimbos no passaporte e garrafas de whisky no free shop. São dezenas de países cosidos num só, sempre orgulhoso mas raramente uno. Daí irritarem-me as generalizações que oiço constantemente. Verdade seja dita, os EUA prestam-se a isso, com a sua vontade incontrolável de estar sempre a andar de monociclo no centro da arena do circo mundial. Só que os europeus adoram acusar os americanos de burrice em relação ao mundo que os rodeia – mas também despejam muita ignorância e muita frase feita deste lado do lago atlântico.
Conheço várias pessoas que moram nos Estados Unidos. Todos eles foram hoje votar e daí seguiram para festas em casa de amigos. Festas. Por causa de uma eleição. Isso nunca aconteceria no meu país, tento explicar, tropeçando em argumentos que eu própria não percebo. Eu nunca vi uma fila para votar que desse a volta ao quarteirão. Porra, eu nunca esperei mais de três minutos para preencher o boletim numa escola às moscas. Nunca vi ninguém declarar com entusiasmo que nem vai dormir na noite das eleições. E a única pessoa que vi chorar foi o Pedro Granger quando o Santana perdeu as legislativas – o que não é uma imagem propriamente galvanizante.
Hoje, nos EUA, foi como uma passagem de ano e o Natal e a final do Euro tudo junto. Vezes cem. E o Barack Obama pode até vir a desiludir (é quase inevitável, dadas as altíssimas expectativas), mas neste momento milhões de pessoas acham que o mundo está um bocadinho melhor. Nem que seja só um milímetro. E é inspirador sentir que hoje se pode ser tão optimista até roçar a ingenuidade. Porque o cinismo constante não mata, mas mói. E não acreditar na mudança é atirar as luvas para o meio do ringue e ir antes buscar uma tosta de queijo.
Estou farta de pessoas que dizem que não ligam a política. Que não acompanham, que não tem nada a ver com elas, que “eles” não sabem o que é a vida do povinho. Acho isto a mais pura e atordoante ignorância. Pode-se não acreditar em partidos – mas não perceber que essa coisa da “política” é uma soma das partes (onde também estamos incluídos) é dormência. A política, na sua essência mais pura, somos nós. E quando não passa de um mecanismo partidário, é porque nós deixamos. Porque a História não é uma coisa sobre os reis de Portugal que se lê num manual do 8º ano: é a construção da vida de todos os dias. E quem não quiser pegar no seu tijolo, bem pode levar com um na testa.
(agora sim, vou dormir)
Conheço várias pessoas que moram nos Estados Unidos. Todos eles foram hoje votar e daí seguiram para festas em casa de amigos. Festas. Por causa de uma eleição. Isso nunca aconteceria no meu país, tento explicar, tropeçando em argumentos que eu própria não percebo. Eu nunca vi uma fila para votar que desse a volta ao quarteirão. Porra, eu nunca esperei mais de três minutos para preencher o boletim numa escola às moscas. Nunca vi ninguém declarar com entusiasmo que nem vai dormir na noite das eleições. E a única pessoa que vi chorar foi o Pedro Granger quando o Santana perdeu as legislativas – o que não é uma imagem propriamente galvanizante.
Hoje, nos EUA, foi como uma passagem de ano e o Natal e a final do Euro tudo junto. Vezes cem. E o Barack Obama pode até vir a desiludir (é quase inevitável, dadas as altíssimas expectativas), mas neste momento milhões de pessoas acham que o mundo está um bocadinho melhor. Nem que seja só um milímetro. E é inspirador sentir que hoje se pode ser tão optimista até roçar a ingenuidade. Porque o cinismo constante não mata, mas mói. E não acreditar na mudança é atirar as luvas para o meio do ringue e ir antes buscar uma tosta de queijo.
Estou farta de pessoas que dizem que não ligam a política. Que não acompanham, que não tem nada a ver com elas, que “eles” não sabem o que é a vida do povinho. Acho isto a mais pura e atordoante ignorância. Pode-se não acreditar em partidos – mas não perceber que essa coisa da “política” é uma soma das partes (onde também estamos incluídos) é dormência. A política, na sua essência mais pura, somos nós. E quando não passa de um mecanismo partidário, é porque nós deixamos. Porque a História não é uma coisa sobre os reis de Portugal que se lê num manual do 8º ano: é a construção da vida de todos os dias. E quem não quiser pegar no seu tijolo, bem pode levar com um na testa.
(agora sim, vou dormir)
6 Comments:
apesar de espreitar o blog muitas vezes, nunca comentei. mas hoje, hoje que o mundo já mudou um bocadinho, achei que devia fazê-lo. porque eu não diria melhor. porque concordo integralmente com a ideia de que todos fazemos parte do mundo, da "aldeia global", e não nos podemos demitir de uma responsabilidade que é (a noite de ontem comprovou-o) imensa.
obrigada por este post.
Brilliant.
Lembras-te de Chicago? A conversa de café com a Kelly. Parecia tão distante e tão impossível. Quem diria que o Obama seria o nosso Dark Knight.
Vamos sacar da nossa afro e festejar para as ruas, hihi. ;)
Beijinhos!
Este é sem dúvida o melhor post que eu alguma vez li neste blog. Por muito bons que tenham sido os outros. Este é "O Post". Concordo inteiramente, 100%, integralmente, tudo tudo tudo.
Parabéns.
Luís Peixoto
eu faço parte dessa pequena minoria interessada: quando tinha seis anos chorei (literalmente) a derrota do PSD nas legislativas. agora que acabo de escrever isto reparo que, dentro da minoria interessada, estou perigosamente perto do pedro granger.
Concordo, subscrevo, faço vénia. Grande, grande post!
E depois há ainda os que dizem estar do lado de determinado partido e não fazerem ideia do isso significa, não terem a mínima ideologia. Para eles é como escolher uma equipa para torcer num qualquer desporto. (Embora escolher o Sporting seja uma demonstração inequívoca de classe e inteligência:)
Tú és tão GRANDE, Susana...
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