Cartas de amor
As cartas de amor já não se usam. Digo isto sem rancor ou saudosismo. Foram substituídas por SMS palpitantes e conversas de Messenger agitadoras. Nada de mal com isso. As cartas de amor são ridículas. Até o incontestavelmente brilhante Fernando Pessoa teve momentos muito pouco dignos ao escrever à sua Ofélia coisas como: “ Mando um meiguinho chinez (sic). E adeus até amanhã, meu anjo. Um quarteirão de milhares de beijos do teu, sempre teu, Fernando” (não, não sou eu que estou a inventar isto). Depois desta explicação destrutiva das cartas de amor, resta acrescentar a esta nota prévia que o post que se segue é sobre uma das várias cartas de amor que eu já escrevi na vida. E sim, eu devia ter vergonha.
A carta em questão foi escrita pura e simplesmente por falta de coragem de fazer as coisas de outra maneira. Porque o rapazinho em questão me deixava em pânico descontrolado e a hipótese de lhe tentar dar um beijo levaria por certo a que eu lhe vazasse um olho com o meu nariz. Porque falar com ele em pessoa seria ter de lidar cara a cara com um "não" mais que provável. Porque não aguentava mais aquela onda pateta do “eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes”.
Então, escrevi uma carta onde despejei o que me ia na alma. Nunca tive resposta. A carta foi escrita faz agora um ano. E soube ontem, numa confissão a medo de uma amiga comum, que aquela carta foi lida por meio mundo. Passou de mão em mão com um sorriso e um “olha lá o que ela me escreveu”.
Esta revelação poderia ter-me custado muito, mas a verdade é que até nem custou. Primeiro, porque serviu como prova de que o amor nos tolda mesmo os juízos de valor (e deu um novo significado à alcunha do rapaz em questão, conhecido devido à sua profissão como “Palhaço”). Mas sobretudo porque a partir do momento em que se tem um blog, partilhar o que fervilha cá dentro com amigos, conhecidos ou completos estranhos já não me mete grande confusão. E, modéstia à parte, aquela carta foi dos melhores posts que já escrevi.
5 Comments:
PUBLICA!!!
toda a gente tem cartas de amor... ou então... e-mails de amor. Faz parte ;)
Após varias bofetadas dadas pela vida a um rapaz de calças pelo umbigo, meia branca de raquete à mostra e lágrimas vertidas duma juventude rejeitada... perguntei-me: Para quê amar?
Hoje somos adultos, a vida supostamente seria mais facil. Mas quando escrevi aquele longo e talvez secante texto sobre "Para quê amar?"... não é ele mais do que um grito? Será por isso que escrevo coisas tristes? Seremos todos palhaços neste vida?
Essa carta não me passou pelas mão... não podia... nem eu queria. Se o amor cega, o tempo devolve a razão... a razão de aprender... a razão de ser.. e que nos faz recuperar o que somos.
Há coisas que as palavras não dizem... e também há pessoas que não as sabem ler.
E Su, és muito especial! No te olvides de eso, corazón.
E a carta? queremos vê-la já agora...
Hum... I´ll think about it. Mantenham-se atentos a este espaço!
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